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Entrevista com Ângelo Manuel da Costa Duarte

Presidente da Câmara do Comércio e Indústria da Horta, Faial, Açores

Fotos: Kitty Bale / Adiaspora.com
Entrevista conduzida por: Kitty Bale

Ponta Delgada, Açores, 1 Abril 2011


 

Ângelo Manuel da Costa Duarte, presidente da Câmara do Comércio e Indústria da Horta, Faial, Açores

Natural da freguesia da Conceição, Ilha do Faial, Açores, o engenheiro Ângelo Manuel da Costa Duarte iniciou a sua carreira profissional aos 16 anos quando foi estudar na Escola Agrícola de Santarém. Ordenhador de vacas, apaixonado pela criação de gado e pela cultura hortícola, decidiu montar a sua própria empresa e continuou a sua formação no Instituto Superior de Agronomia em Lisboa e na Universidade dos Açores.

De regresso à sua terra natal, começou a trabalhar na área veterinária. Integrou os quadros do Serviço de Desenvolvimento Agrário da Ilha do Faial onde agora é engenheiro técnico agrário.

Além de ser funcionário público e sócio-gerente das suas duas empresas, Ângelo Duarte já foi presidente do Conselho da Ilha do Faial e ainda dirigente associativo da Câmara de Comércio e Indústria da Horta (CCIH) nas duas anteriores direcções.

Em Abril de 2009, foi eleito presidente da CCIH com responsabilidade global pelo desenvolvimento empresarial dos seus associados nas ilhas do Corvo, das Flores, do Pico e do Faial.

Com uma abordagem global que visa colocar os Açores no mapa a nível nacional e internacional, Ângelo Duarte e a sua equipa procuram vencer a crise e dinamizar a economia do arquipélago com iniciativas inovadoras. 

Nesta entrevista exclusiva para o portal Adiaspora.com, Ângelo Duarte falou com a jornalista Kitty Bale do papel crucial das Comunidades no desenvolvimento da economia açoriana.

Adiaspora.com: Em Fevereiro, a Câmara do Comércio e Indústria da Horta (CCIH) em parceria com o portal Adiaspora.com trouxe aos Açores uma dúzia de empresários luso-canadianos da província do Ontario para explorarem novas oportunidades de negócios no ramo agro-alimentar, do artesanato, da imobiliária, da serragem de pedra, dos seguros e do turismo. Como é que surgiu esta iniciativa pioneira?

Ângelo Duarte: Esta iniciativa surgiu de uma conversa com o presidente de Adiaspora.com - José Ferreira - durante a nossa visita a Toronto e a nossa participação no XXII Encontro dos Antigos Alunos do Liceu Nacional da Horta.   Percebemos que poderíamos ser parceiros e desenvolver uma ideia de trabalho que potenciasse a vinda aos Açores das empresas de açorianos e continentais do Canadá para conhecerem a nossa realidade, as nossas indústrias e a qualidade dos produtos que saem destas indústrias.

Desenvolveu-se um projecto e conseguimos com o apoio do José Ferreira organizar esta visita. Estivemos no Faial, em São Jorge, no Pico, na Terceira e em São Miguel e portanto digamos que os interessados acabaram por ver onde se fabricavam os produtos, que tipo de produtos e a matéria prima que está a ser usada nos produtos açorianos.

Foi um acontecimento muito interessante porque permitiu que se fechassem negócios e fecharam-se negócios - o objectivo era exactamente esse. Ao mesmo tempo, organizámos também todo um processo de exportação das queijadinhas da Vila - de Vila Franca do Campo na ilha São Miguel - e estamos também a estudar a hipótese de colocar a Dona Amélia - a queijadinha da Terceira - nas nossas Comunidades.

Portanto encontramos verdadeiros parceiros de interesse para potenciar trocas comerciais entre as empresas dos Açores e as empresas que - sendo de proprietários açorianos e continentais - permitiram que houvesse essa ligação.

Ângelo Duarte com José Ilídio Ferreira, presidente de Adiaspora.com 

Adiaspora.com: Apesar de alguns destes empresários já terem ligações comerciais com a região, a CCIH fez questão de destacar o lado humano desta missão empresarial incentivando o intercâmbio de saber/perícia entre os dois lados do Atlântico através dum programa intensivo de trabalho. Os Açores ainda não são bem conhecidas no estrangeiro. Na sua opinião, como é que o arquipélago pode conseguir impor-se no mercado internacional e qual o papel das Comunidades nesta divulgação?

Ângelo Duarte: As ilhas por si já são uma grande oferta e uma grande atracção para alguém que - com disponibilidade e com meios - possa cá nos visitar. A comunidade açoriana espalhada por todo o mundo é a principal divulgadora destas ilhas e nesta fase são eles também os potenciais visitantes.

Nós temos essa facilidade, o facto de haver mais de um milhão de habitantes com origens açorianas espalhados por todo o mundo - é um universo tão grande que permite que sejam os próprios a gerar movimento de lá para cá.

Agora, o que a CCIH tem que fazer é estar mais próxima das Comunidades e daí, portanto, no XXII encontro dos antigos alunos do Liceu Nacional da Horta, termos promovido um encontro de empresários e termos promovido também uma degustação de produtos regionais porque por esta via estamos exactamente a nos interligar e a nos conhecer. Efectivamente, os anos passaram-se, toda a gente se dedicou ao trabalho e esqueceu-se um pouco esta oportunidade.

A Região Autónoma dos Açores tem vindo a apostar muito nas Comunidades açorianas espalhadas pelo mundo, nomeadamente no Canadá e nos Estados Unidos. A CCIH está a fazer um complemento que é ligar a missão empresarial de uma forma mais profunda em pequenos grupos para potenciar os negócios.

Adiaspora.com: Porque é que um empresário estrangeiro havia de importar produtos dos Açores quando muitos destes produtos estão a ser fabricados nas Comunidades por emigrantes segundo os métodos tradicionais da região? Aliás, quais as vantagens exclusivas dos produtos açorianos?

Ângelo Duarte: Uma diferença - tem muito a ver com o produto final em termos de sabor. Não está em causa a qualidade - nós temos todo um processo natural de produção de leite e de produção de carne muito próximo daquilo que é o biológico e portanto todo o animal traz umas outras características. O produto açoriano vai estar mais próximo do que não tem esse sabor açoriano.

Por muita indústria que exista ali em territórios onde o mercado da saudade existe, o que é certo é que a matéria prima não tem as mesmas características organolépticas, nem de estrutura, nem físicas e portanto nós vamos marcar sempre um produto pela diferença.

Sendo em pequena quantidade, nunca irá chocar também com essas indústrias portanto existirá em paralelo com as mesmas indústrias. O mercado da saudade, só por si, já diz produto açoriano, genuinamente açoriano, naturalmente produzido. O facto de serem produções de pequena quantidade, essas sim, vão dar sempre oportunidade a que se valorizem cada vez mais.

Adiaspora.com: A visita centrou-se principalmente no Grupo Central e nas ilhas do Triângulo (Faial, Pico, São Jorge), com um dia na Terceira e um dia em São Miguel. Qual a mais-valia do Triângulo em termos de negócios? Quais os seus desafios perante a exportação de produtos?

Ângelo Duarte: O grande desafio vai estar exactamente nos queijos destas ilhas como o queijo Mistério produzido no Pico que é um novo produto ainda pouco conhecido. Temos também o queijo Moledo do Faial que é um novo produto e temos o tradicional queijo São Jorge que está já a sair frequentemente. Estas ilhas têm em queijos uma mais-valia extremamente importante com paladares e sabores únicos tipicamente dessas mesmas ilhas - não se confundem com os produtos de outras ilhas.

Por outro lado, nós temos os vinhos do Pico que são um produto também único nos Açores. Nós temos uma presença muito forte de uma produção com uma qualidade enológica muito diferente daquilo que é outro vinho.

Para além dos produtos, as ilhas do Triângulo são aquelas ilhas que são mais interactivas em termos de arquipélago, mostrando interesse e proximidade.

Adiaspora.com: Porém, ao longo desta visita, a CCIH sempre realçou que, para ter sucesso, a divulgação e a promoção da região, tem que ser feita de uma forma abrangente englobando as nove ilhas. Pode esclarecer esta estratégia?

Ângelo Duarte: A estratégia é única. As nove ilhas açorianas têm uma dimensão territorial que é equivalente ao território do Algarve ou que é equivalente por exemplo à ilha de Tenerife. Temos uma situação geográfica muito interessante.

Os produtos açorianos, de várias ilhas, têm potencialidades de exportação.

A única indústria de chá europeia está em São Miguel e temos que valorizá-la por aí. De resto, o chá é aquele produto que hoje é recomendado para alimentação humana e como sempre também em uso terapêutico. É uma indústria que tem uma determinada dimensão e poderia eventualmente  expandir-se , se houvesse grandes solicitações. Tem uma presença muito forte e também um sabor muito agradável - estamos a beber o mesmo chá que é produzido na Ásia, portanto temos aqui uma vantagem.

Outros produtos - o ananás é o único que é de São Miguel. Se eu quiser promover produtos regionais também vou ter que ir buscar um vinho dos Biscoitos à Terceira, vou ter que ir buscar um doce à Terceira eventualmente. Portanto vale a pena trabalhar sempre com produtos regionais porque aumentamos a nossa oferta .

Se eu pensasse numa forma exclusiva nos produtos do Corvo ou das Flores ou do Faial ou do Pico, seria muito condicionado àquilo que é a nossa pequenez e assim sempre que sairmos para falar de produtos, falamos de produtos açorianos na sua totalidade. A única estratégia para se falar é de uma forma complementar.

Adiaspora.com: De forma mais concreta, quais os apoios ou incentivos que a CCIH pode proporcionar aos empresários interessados em fazerem negócio com o arquipélago?

Ângelo Duarte: A região Açores está organizada e o Governo Regional tem um programa de apoio à exportação. Por exemplo, quando estudámos o caso da exportação das queijadinhas da Vila, tivemos que perceber como vender um produto que chegasse lá a preços mais baratos. E demos a orientação ao empresário para organizar todo este processo de maneira que o comprador vai beneficiar de um produto cujo transporte será a 50 por cento pago pela região e os outros 50 por centos será a nota de crédito para a empresa importadora - portanto neste caso a empresa canadiana - o fazer.

Não há muito para inventar - o que há é que gerir os recursos e os apoios que já existem. Então nós colocámos o nosso gabinete técnico a trabalhar nisso e fizemos chegar a informação à empresa de São Miguel para ajudar a organizar a exportação.

O acompanhamento mais próximo à empresa e a informação de uma forma mais certinha são a motivação que o empresário recebeu para organizar a sua vida de exportação. Porque muitas vezes nós não nos metemos ao trabalho porque julgamos que não é bem assim, temos dúvidas e acabamos por não chegar ao fim com o projecto, não é?

Mas as ajudas existem, são excelentes aliás são únicas no mundo. O Governo Regional tem feito o melhor trabalho para que os produtos açorianos cheguem a todo o lado.

Adiaspora.com: As quotas e os transportes são dois elementos que foram identificados pela missão empresarial como problemáticos. O que está ao alcance da CCIH para melhorar esta situação?

Ângelo Duarte: No que diz respeito às quotas que as empresas canadianas têm para importar os produtos açorianos - nomeadamente o queijo - podemos fazer algo. Estamos a pensar já no fim de Maio organizar a segunda missão empresarial luso-canadiana conjuntamente com Adiaspora.com com a presença do Ministro do Trabalho da Província do Ontario, um representante da Câmara do Comércio de Toronto e um deputado federal no sentido de potenciarmos uma visita a estas entidades para perceberem o que nós somos, para depois podermos conversar e negociar, ou propor e sensibilizar o governo canadiano a aumentar as quotas.

Se conseguirmos dar este passo, nós vamos ter mais facilidade em fazer melhores negócios e de maior volume. Portanto a próxima missão empresarial do Canadá vem exactamente nesse sentido.

Adiaspora.com: Em termos de resultados mensuráveis - e respeitando confidencialidade sempre que aplicável - será que esta visita dos empresários canadianos aos Açores já resultou em algum contrato, protocolo, acordo de cooperação ou nova iniciativa?

Ângelo Duarte: Resultou em contrato de negócio - um importador de queijo de São Jorge fechou logo um contrato para 14 toneladas - e criou novas expectativas de exportação. Na área da pastelaria, há uma perspectiva de desenvolvimento muito forte, há portanto uma grande aposta e estamos a trabalhar nesse processo para ir acompanhando os empresários dessas 3 ilhas para chegarmos com isso ao fim.

Há aqui uma dinâmica de interesse que estou convencido virá a melhorar. Por um lado, eles já eram importadores de produtos e nós queremos potenciar um aumento e vamos potenciar.

Estamos também a tratar do assunto dos vinhos - há uma grande solicitação não só do Magma da Terceira mas também dos do Pico e que são produtos que queremos colocar lá fora.

Quanto ao transporte, sabemos que a logística de transporte é complexa mas não é impossível portanto os barcos circulam. Todo o planeamento das empresas terá que ser feito com tempo suficiente para que o produto possa circular durante as três, quatro ou cinco semanas para chegar ao seu destino. Quando estamos a falar de vinhos, não traz dificuldade, quando estamos a falar de queijos, não traz dificuldade.

Quando passarmos para os produtos frescos, a SATA terá que garantir o escoamento de uma forma planificada também.

A questão do transporte é uma situação relativa - não podemos estar aqui a pensar que vamos ter barcos a tocar, a fazer toques direitos porque não temos volume de carga nem a entrada nem a saída que motive as empresas armadoras para fazerem esse percurso.

O que interessa é que de uma forma planificada os contentores vão fluindo e o produto vá saindo.

José Ferreira e Ângelo Duarte no Centro de Interpretação
do Vulcão dos Capelinhos, Ilha do Faial 

Adiaspora.com: De ambas as partes, nota-se uma vontade de enquadrar a promoção dos produtos açorianos através da promoção do destino turístico Açores. Considera estas duas vertentes indissociáveis?

Ângelo Duarte: É extremamente importante associar as ilhas em toda a sua promoção turística aos seus produtos porque os produtos são também mais um motivo para interacção.

Pela gastronomia promovem-se grandes encontros. Ontem em Londres foi o jantar dos Amigos do Peixe, no Faial foi o jantar da Academia do Bacalhau por exemplo. Os empresários e os amigos dessas actividades - sejam empresários ou não - estão sempre disponíveis para degustar bons pratos e fazerem portanto o seu trabalho. Esta forma de associar promoção turística aos produtos comestíveis, aos nossos produtos regionais é extremamente importante.

Adiaspora.com: Olhando para o próximo futuro, a CCIH tenciona organizar outras missões empresariais e/ou eventos deste género?

Ângelo Duarte: Sim, aliás vamos receber uma missão de Portugal Continental - de Viseu, vamos receber portanto 10 empresários e dois órgãos de comunicação social e um grupo de pessoas que vem acompanhar essa missão empresarial de 30 de Abril a 5 de Maio. 

Vamos ter também a missão empresarial da Galiza de 6 a 9 de Maio. Depois vamos voltar a ter aqui em principio os Ingleses mas ainda estamos a aferir as datas - eles viriam a 29 de Abril para regressar a 1 de Maio.

Vamos ter a missão empresarial do Canadá na última semana de Maio e vamos ter a grande missão empresarial do Brasil - de Porto Alegre - para o Espírito Santo . Eles vão ficar sedeados durante uma semana nas ilhas do Triângulo com o grande objectivo de conhecerem os nossos produtos, as nossas tradições e de perceberem um pouco as suas origens.

Adiaspora.com: Em 2011, faz 10 anos que o portal Adiaspora.com anda a divulgar a lusitanidade online e através de eventos culturais e agora também empresariais, criando ligações entre lusófonos e lusófilos espalhados pelo mundo. Na sua qualidade de presidente da CCIH, quer deixar uma mensagem para os utilizadores do portal?

Ângelo Duarte: Adiaspora.com é efectivamente um parceiro de divulgação daquilo que se passa na região Açores e daquilo que se passa também em todo o mundo português. Pelo portal, qualquer utilizador fica informado e recebe portanto em primeira mão de uma forma mais pormenorizada o que se está a passar no seu local, na sua terra. Isso é um trabalho extremamente importante.

Por outro lado, o que nós queremos em termos de Câmara do Comércio e Industria da Horta é beneficiar um pouco dessa divulgação e poder chegar também com os nossos trabalhos e com as nossas intenções junto de toda a Comunidade. O portal é excelente para isso.

Os seus utilizadores sempre beneficiam com uma visita que fazem ao portal  Adiaspora.com porque também é uma forma de matar a saudade, eventualmente de ouvir falar de alguém conhecido ou de ver uma fotografia.

 

Queremos ouvir a sua opinião, sugestões ou dúvidas:

info@adiaspora.com

 

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